quarta-feira, junho 13, 2007

O Homem Sendo Homem

Este artigo não se propõe a retomar reflexões específicas de nenhuma área em especial, mas sim, discorrer acerca do início metafísico do grave problema que vem a memória quando este assunto é mensurado, e sendo assim, longe de ter a pretensão de ser a discussão final sobre tal assunto, mas, fomentar uma reflexão pouco anunciada nos círculos do saber e, sobretudo, abrir uma nova série de pensamento sobre este assunto que requer uma atenção especial.

Muito se é falado sobre meio ambiente em nossos dias. Sendo debatido em várias instâncias de acordo com a finalidade de cada preletor. O terror de ter que viver em um mundo devastado pela ação humana está presente em nosso meio como a uma praga, que insiste em querer anunciar aos quatro cantos do mundo, que a situação é ainda mais grave do que pensávamos.

De acordo com a significação, em uma forma sucinta, meio ambiente é o que abriga e rege a vida em todas as suas formas. Desta maneira, facilmente é esquecido que tal expressão engloba não somente a ecologia, mas uma série de fatores que faz com que a vida siga o seu curso sem enaltecer ou diminuir nenhuma parte que forma tal meio. Antes de qualquer coisa, deve-se compreender um detalhe que pouco é explorado em uma reflexão deste porte. Ao invés da reflexão partir do início, a maior parte dos pensadores querem achar a problemática em seu final, ou seja, “o que fazer para mudar esta situação”, quando deveriam se perguntar “onde teve o início de toda esta situação já conhecida”.

É sabido que o povo brasileiro não tem o hábito de tratar bem o meio em que está e partindo desta premissa, uma breve explanação se faz necessário.

O Brasil é um país que professa a crença nos conformes do cristianismo, sendo assim, para entender como funciona o pensar do brasileiro, deve-se compreender como o cristianismo trata tal assunto em todos os seus momentos, seja no início quanto na contemporaneidade.

No início da cristandade, muito se falou em uma volta eminente do Salvador[1], que viria resgatar aqueles que reinariam com ele no paraíso, segundo a passagem de Hebreus 10:37 que diz: “Pois ainda em bem pouco tempo aquele que há de vir virá, e não tardará”. Fato que levou os fiéis a se importarem, apenas com a volta do Salvador que os levariam para o paraíso, despojando-se de seus bens e tudo o mais que julgavam supérfluos, assim como é apresentado em Atos 2:45: “E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. A possibilidade que trouxe esperança para toda a cristandade foi à mesma que os levaram a não ligar para as suas vidas quantos seres viventes e pertencentes ao meio em que vivem.

Com o passar dos tempos, a esperada volta do Salvador não aconteceu, abrindo precedentes para um cristianismo institucionalizado e comandado por pessoas que, até então, estavam acostumadas a fugirem para que suas vidas não fossem ceifadas por declararem uma crença segundo o cristianismo. O que fez com que o cristianismo passasse para uma nova etapa de sua existência, a saber, “Como evangelizar as pessoas e fazer com que a esperança do retorno triunfal de Cristo não fosse esquecida”. O que nascera com um propósito íntegro, culminou em uma disputa de interesses que acabou tendo conseqüência no magistério cristão. Não ensinava mais um cristianismo bíblico, mas um cristianismo que forçava a pessoa a aceitar tal crença com o risco de ser lançado no inferno cristão[2], onde nasceu a famosa frase: “Quem não vem pelo amor, vem pela dor”.

Como se já não fosse suficiente, uma nova compreensão sobre o paraíso alastrou-se por toda a cristandade, em seu início. A idéia de que esta terra seria destruída e que uma outra terra seria construída pelo Salvador para os que quisessem ter com ele no gozo da eternidade. Tal idéia encontrou uma forte aceitação em meio a maior parte da cristandade, pois, era embasada segundo o livro de apocalipse no capítulo 3:12, onde diz:

A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, donde jamais sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do meu Deus, e também o meu novo nome.

E ainda, no capítulo 21:1 que reitera esta idéia: “E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já se foram o primeiro céu e a primeira terra, e o mar já não existe”.

No século XVI, esta idéia ganhou formas e contornos um pouco menos irreal com o surgimento da linha de pensamento comumente chamado de Calvinismo[3], que ganhou força por afastar o medo do inferno cristão que imperava entre os cristãos. De fato, toda a maneira de pensar sobre a vida e tudo que engendra por ela foi modificado com este pensamento.

Chegando a pós-modernidade, ser cristão virou sinônimo de uma busca pela espiritualidade que há muito se perdeu. Esta busca é marcada por uma metodologia em que não é a favor da vida planetária. Cada um é senhor de seus caminhos e a maioria esmagadora, ao contrário do de Atos 2:45, não ligam para o outro e nem que rumo a sua vida irá tomar caso ele não estenda a mão para uma ajuda.

Em pleno século XXI, a falta de consideração ao meio ambiente não é mais ditada pela religião, mas sim, pela cultura que absorveu a parte negativa desta religião fomentada por pessoas que não conheciam o impacto que culminaria em nossos dias. Pois, esquece-se que no livro de Gênesis 1:28, Deus fala ao homem:

Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.

Mas se esquece que logo após, Ele deu também o exemplo a ser seguido no mesmo livro, no capítulo 2:15 que diz:

E tomou o SENHOR Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.

Por fim, como diria Thomas Hobbes, "Homo homini lupus[4]". Fato que não pode capacitar a ninguém a viver em uma passividade quanto a este sério problema que se encontra a ser pensado. Segundo reza a Constituição Federal do Brasil, este chamamento para uma reflexão/ação sobre o que fazer para mudar o panorama em que se encontra o meio ambiente é tanto um direito quanto um dever de cada um.

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (Art. 225 da Constituição Federal).



[1] Segundo a tradição Cristã, o Salvador é apresentado na figura de Jesus de Nazaré. Sendo ele, a segunda pessoa da Trindade.

[2] Segundo a tradição Cristã, o inferno é um lugar de tormento onde os que não aceitaram Jesus como messias iriam passar toda a eternidade como punição desta má escolha.

[3] Uma vertente do protestantismo cristão que cria a predestinação do homem, ou seja, as coisas só acontecem porque Deus já havia determinado, sendo assim, não cabe ao homem a preocupação do dia de amanhã.

[4] Traduzindo para o português, segundo Fernando L. Maximiano, “homem é o lobo do homem”.

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