quinta-feira, abril 29, 2010

Morrer, viver e seus sentidos

Morrer é o requisito necessário para se viver, pois é pela perspectiva da morte que cada momento é mais belo e mais valioso que qualquer outro. Morrer é libertar-se, é ter o poder. Nesse ponto eu cito Tolkien, em Silmarillion: "Aos primogenitos eu darei a vida eterna, e o poder de curar o mundo, aos sucessores lhes darei o dom mais precioso, que não será compreendido nem invejado antes que se perceba seu valor, pois estes não cansarão com o peso do mundo, pois lhes dou a morte, para que repousem e retornem para mim. - Assim disse Ilúvatar..."

Não há dom maior que a Morte, nem maldição maior. A Benção pra quem a compreende, a maldição para quem a teme... a morte... é só o começo! [by Humberto/PCX]

Para muitos, o verdadeiro sentido da vida é procurar um sentido para estar/continuar vivendo. Passa-se a vida toda esperando ter um insight a respeito desta que é uma das maiores dúvidas de todos os tempos, senão a maior, e esquecessem-se de que somos seres limitados. Nascemos com uma data de validade. A morte é o mesmo que o ponto de chegada, nada mais e nada menos. Uma data que marca o final e o início de um novo ciclo.

No meio espiritualista, alguns ícones conseguiram encontrar o sentido da vida somente na morte. Sendo assim, creio que o sentido de existência do homem é aceitar que sua existência é limitada pelo tempo khronus¹. A partir de então, a pessoas deve fazer com que este tempo deixe de ser apenas um tempo para se tornar um momento, um bom momento.

Usando a cosmovisão teísta, podemos concluir que a morte não é o fim de tudo, mas o início de uma vida espiritual. O porvir é mais do que consequência, mas algo esperado, desejado. Assim, o indivíduo vira um estrela a brilhar no firmamento; um deus para olhar pelos homens; um anjo para zelar pelos que ainda estão; um espírito em busca de perfeição. São formas de compreensão que mostra a vontade do homem em não ter sua passagem aqui na terra como algo em vão.

Outra forma de compreensão seria aceitar que tanto o termo morte quanto o termo vida não passam de termos para uma diferenciação. Parece obvio, mas nem tanto. O que está vivo não pode estar morto e vice-versa. Apesar de sermos seres orgânicos e contar com um esquema básico de apenas 4 elementos químicos enquanto estamos vivos, de uma certa forma, mantemos este mesmo sistema após ter morrido. Muitos ouviram o famoso "nada se cria, tudo se transforma" e é essa a ideia de compreensão fora do contexto humanizado. Não passamos de combinações de elementos químicos unidos, mas que caso estivessem unidos com outra sequência, seríamos algo parecido com uma ameba.



¹Tempo Khronus: Tempo corrido. Ao contrário do tempo Kairós, que é o tempo em forma de momento.

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