quarta-feira, junho 24, 2009

As Minhas Testemunhas

Diabolicamente divina!
Divinamente diabólica!

Não há outra forma de definir o que é belo. Como numa tentativa desperdiçada, torço para que ao fim de minhas palavras eu possa fazer jus ao que vi. Sem ir além nem aquém. Lembro-me da noite em que a vi pela primeira vez. De longe, as suas curvas, não tão magras, roubaram parte de minha lucidez. Perdi-me em meio ao desejo de sentir o cheiro de seus loiros cabelos. No entanto, me encontrei no momento em que pude ouvir sua voz, tal e qual o melhor soneto já apreciado. Senti minhas pernas trêmulas e minhas mãos choravam de tristeza por não poder tê-la entre elas. Mas ainda não é chegada a hora. Antes precisava conhecer o rosto daquela que prometia agradar até o mais rígido epicurista. Fui mandado ao céu no momento em que ela resolveu compartilhar um pouco do seu olhar comigo. Mas voltei, imediatamente, para não perder momento algum. Senti-me como Da Vinci quando esteve, pela primeira vez, apreciando sua melhor obra. Posso compreender como a sua mente, acostumada com o belo, tentou transmitir em palavras aquela grande sensação que lhe acometia. Mas sem nenhum êxito.

– Oi! – disse a linda moça, quase sussurrando.

Não sabia o que fazer e nem o que dizer, pois, até sua voz parecia estar confirmando sua perfeição.

– Olá! Tudo bem? – foi o máximo que eu consegui responder sem gaguejar.

Apesar do medo que havia tomado conta de meus pensamentos, decidi que não iria sair daquele lugar sem a conhecer. Parei de frente a ela e esperei o momento certo em que iria conhecê-la melhor. Tarde demais! Segundos se passaram desde o primeiro momento em que comecei apreciar seu rosto.

– Você está bem? – Foi a única frase que consegui ouvir (como se estivesse há milhas de distância).

– Sim, estou! – respondi, enquanto meus pés – trêmulos – decidiram que iriam procurar um lugar para se esconder, antes que eu viesse a desabar no chão.

Por esta noite, não tentei nenhuma outra aproximação. Não queria que ela pensasse que minha vida já estava ganha e perdida. A partir daquele momento, não haveria vida sem que ela estivesse comigo. Mas ao lado dela, poderia viver; teria a vida no qual falavam os apaixonados. Mais uma vez me perdi em meio aos meus pensamentos, ora de paz, ora de medo, tentando não deixar com que a imagem de seu olhar me deixasse viúvo.

Como se fosse uma aprovação dos deuses, pude encontrá-la novamente. Agora com seus cabelos curtos; rente ás orelhas. Linda como sempre. Não era mais noite. Os raios do sol tocavam sua face feminina fazendo com que os pequenos movimentos tivessem uma dimensão centenas de vezes maior do que realmente era. Tinha de ser hoje! Como havia me preparado, reservei-me o direito de recitar as palavras do mestre poeta como se fossem palavras de comando:

“Aí que o meu sentir vago e profundo
O seu lugar exterior conheça,
Aí durma em fim, aí enfim faleça
O cintilar do espírito fecundo.”


Nada poderia dar errado! Iria dizer o quanto sonhei com este momento. Iria dizer que mesmo não a conhecendo, “a mim ensinou-me tudo”. Mesmo percebendo tudo em minha volta, “ensinou-me a olhar para as coisas”. Ensinou-me que eu poderia sonhar com o belo. Que poderia o desejar. Ensinou-me a amar.

Caminhei até ela sem chamar atenção. Queria continuar observando cada detalhe seu enquanto me aproximava. Em sua mão direita encontrava um cigarro aceso que de tão insistente, não deixava cair sua cinza. Com sua mão esquerda, ajeitou o seu lindo cabelo atrás da orelha enfeitada por diversos piercings. E com os pés entrelaçados, resolveu alongar seu lindo corpo como quem realmente conhece o seu potencial. E foi neste momento que pude conhecer quem você realmente era.

Uma grande conquista para uma vida curta. Sim! No dia anterior eu havia conhecido aquela que faria toda a diferença em minha vida. Não se trata de saber apenas o nome, mas de perceber que em meio às várias qualidades aparentes, havia nela várias outras qualidades que, para mim, já era extinta.

Soberba? Não! Isso ela nunca soube o que é. Ganância? Não! Ela já conhecia a felicidade no pouco. Luxúria? Acho que não! Apesar de tudo, sua mente a enganava. Nunca soube o seu verdadeiro valor. Era como uma criança com uma arma na mão. Desconhecia o próprio corpo e era enganada por sua mente. Triste sina, caso este relato tivesse chegado ao fim neste ponto. A verdade é que o seu amor pela vida me contagiou. A sua alegria de vida trouxe refrigério para minha alma doente. E por tudo o mais, sou-lhe grato.

“O mundo é um sepulcro de tristeza”, mas não hoje! Não me permitirei desejar a morte. Pelo menos enquanto você estiver aqui. Agradeço aos céus, ao acaso, aos antigos espíritos, aos deuses, ao deus, o Deus por ter-me feito encontrar com o “Viajeiro do Amor”. Agradeço por ter dito tanto sobre o amor e as suas formas. Agradeço por não ter me deixado desistir. Como um bom discípulo que fui, acompanhei apreensivo cada instante que antecedeu o dia em que pude, enfim, ter o grande prêmio. O nome do prêmio ainda não direi. Só sei que nada me fez tão feliz. Nada me fará mais feliz. Como o poeta da escuridão, hoje posso dizer sobre a “agonia de amar”, que tive, que se tornou numa “agonia bendita”.

Que tudo se mantenha como está, para que eu possa falar como poeta e fazer de lindas palavras – necessárias palavras – minhas testemunhas de que este momento descrito aconteceu da forma em que se apresenta. Tudo isso para que, em um futuro próximo, minha realidade possa se mudar para um desses fantásticos poemas de Fernando Pessoa, onde a chama do amor sempre será imortal. Assim como este pequeno grande momento que vivi. Desejo que minha vida se torne como este poema que virá encerrando este relato. Com as devidas mudanças minhas.

“Ela mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ela é a Eterna Criança, o deus que [me] faltava.
Ela é o humano que é natural.
Ela é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza”...

qual é o nome da perfeição. Ela atende pelo nome de moça.

Fernando Maximiano

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